Medo de se conhecer: por que ainda resistimos à terapia?
- Michelle Martins de Oliveira
- 7 de out.
- 3 min de leitura

Quantas vezes você já respondeu “tô bem”, enquanto por dentro pensava “tô à beira de um colapso”?
Vivemos em uma era em que falar sobre saúde mental se tornou comum, mas buscar ajuda de um psicólogo ainda parece um passo assustador para muita gente. É curioso, porque nunca se falou tanto sobre autocuidado, autoconhecimento e bem-estar, mas o simples ato de marcar uma sessão de terapia continua sendo um tabu silencioso.
A verdade é que, em algum nível, todos temos medo de nos ouvir de verdade. A terapia é o lugar onde as verdades que evitamos podem, finalmente, ter voz. E isso assusta.
O medo de dar “match” com o próprio caos
Para muita gente, começar a terapia é como abrir uma caixa que se preferia deixar fechada. Existe o receio de descobrir coisas incômodas sobre si mesmo, encarar feridas antigas, admitir vulnerabilidades e, talvez, perceber que a vida não está tão sob controle quanto se imaginava.
Há quem evite a terapia com desculpas práticas, “não tenho tempo”, “é caro”, “não sei por onde começar”, mas o que está por trás disso é, muitas vezes, o medo do confronto interno. É o temor de encarar as próprias contradições e de perceber que, por trás de algumas escolhas, há repetições, carências e padrões que se perpetuam silenciosamente.
Não é raro que as pessoas procurem o psicólogo apenas em momentos de crise. E embora isso seja legítimo, a terapia não serve apenas para apagar incêndios emocionais. Ela é também o espaço de prevenção, crescimento e fortalecimento interior. Um lugar onde é possível construir recursos internos para lidar com as dores inevitáveis da vida.
Por que resistimos ao que nos cura?
A resistência à terapia tem raízes culturais e emocionais profundas. Ainda há quem associe o ato de procurar um psicólogo à “fraqueza”, como se a vulnerabilidade fosse algo a ser escondido. Fomos educados a “dar conta”, a “ser fortes”, a “seguir em frente”, mesmo quando o corpo e a mente pedem pausa.
Também existe a crença de que conversar não resolve. Mas a ciência prova o contrário. Pesquisas da Universidade de São Paulo (USP, 2024) mostraram que apenas 15 minutos de conversa com um profissional podem reduzir em até 30% os níveis de ansiedade. Ou seja: falar funciona. Ser ouvido de verdade transforma.
Outra pesquisa, publicada pela American Psychological Association (APA, 2023), mostrou que terapia contínua pode diminuir em até 40% os sintomas de depressão e estresse crônico. O cérebro responde à escuta empática e à reorganização emocional que a psicoterapia promove. A conversa tem efeito químico, fisiológico e duradouro.
Mas o que a ciência mostra com dados, a vida comprova em silêncio: quando a mente encontra um espaço seguro para ser ouvida, ela respira.
O espaço seguro onde você pode ser humano
A terapia é, acima de tudo, um espaço de acolhimento. Um lugar onde você não precisa “dar conta”, nem fingir que está tudo bem. Onde o erro não é julgado, o choro não é fraqueza e o silêncio não é incômodo.
Ali, você pode se permitir ser humano. Com suas contradições, medos, memórias, traumas e esperanças. Com tudo aquilo que você evita mostrar até para si mesmo.
E é justamente nesse encontro com o que dói que a transformação começa. A psicoterapia não muda quem você é. Ela te devolve a capacidade de ser quem você sempre foi, mas que talvez tenha se perdido no meio das exigências, cobranças e expectativas que o mundo impõe.
A coragem de pedir ajuda
Buscar terapia é um ato de coragem, não de fraqueza. É admitir que você não precisa caminhar sozinho, que há dores que merecem ser compartilhadas e que o autocuidado vai muito além de um banho demorado ou uma xícara de chá no fim do dia. É um compromisso com a própria vida.
A psicologia vai muito além da escuta. Ela é investigação, ciência, construção de sentido. É o espaço onde a vida emocional ganha contornos e onde as perguntas mais difíceis podem, finalmente, encontrar palavras.
Se você já se perguntou “será que eu preciso de terapia?”, talvez essa já seja a resposta. Porque o simples fato de cogitar esse passo mostra que você está pronto para se ouvir de verdade.
Cuidar da mente não é luxo. É sobrevivência. E talvez, depois de algumas sessões, você até descubra que o caos interno não era um inimigo, era apenas um pedido de atenção.
Encontre seu espaço de escuta
Se você sente que precisa de um lugar para respirar, se compreender e retomar o equilíbrio, saiba que a terapia pode ser esse ponto de virada.




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