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Ghosting dentro do relacionamento: quando ele se desconecta mesmo estando ali

Hoje quero conversar sobre um fenômeno que tenho observado com frequência crescente no meu consultório: o ghosting emocional dentro dos relacionamentos. Você sabe quando alguém simplesmente desaparece de uma relação sem explicação? Agora imagine isso acontecendo com a pessoa deitada ao seu lado na cama todas as noites.


Ghosting no relacionamento

Tenho ouvido tantas mulheres descreverem essa experiência dolorosa: "Michelle, ele está aqui, mas ao mesmo tempo não está. É como se eu fosse invisível." Essa sensação de ser "ghosteada" por alguém que continua fisicamente presente é uma das formas mais sutis e devastadoras de sofrimento emocional que podemos experimentar.


Vamos mergulhar juntas nesse fenômeno, entender suas causas e, mais importante, descobrir caminhos para reconexão – ou para a clareza que você merece.


Reconhecendo o Ghosting Emocional


Diferente do ghosting tradicional, onde a pessoa simplesmente desaparece, o parceiro distante continua presente fisicamente, mas sua essência, sua energia emocional, sua verdadeira presença... essa sim desapareceu.


Aqui estão alguns sinais que tenho observado em casais que enfrentam esse fenômeno:


  • Conversas que não vão além da superfície


Vocês conversam sobre a conta de luz, sobre quem vai buscar as crianças na escola, sobre o que jantar... mas quando foi a última vez que trocaram ideias sobre sonhos, medos, esperanças? A comunicação profunda é substituída por interações funcionais, logísticas, como se vocês fossem apenas colegas de apartamento gerenciando uma casa.


  • Presença física, ausência emocional


Ele está ali, sentado ao seu lado no sofá, mas completamente preso na tela do celular. Vocês assistem ao mesmo programa, mas não compartilham risadas ou comentários. Dormem na mesma cama, mas o abismo emocional entre vocês parece é enorme. Essa é uma das manifestações mais dolorosas da indiferença no casamento.


  • Iniciativa unilateral


Você é sempre quem sugere um programa diferente, quem planeja momentos juntos, quem inicia conversas significativas. Quando para de tentar, o relacionamento simplesmente entra em modo de espera, como um aparelho no standby. Essa sensação de ser a única investindo emocionalmente é exaustiva e, com o tempo, profundamente dolorosa.


  • Intimidade física mecânica ou inexistente


A conexão física, quando ainda existe, tornou-se mecânica, previsível, desprovida da faísca que vem da verdadeira conexão emocional. Muitas vezes, ela simplesmente desaparece, criando outro nível de rejeição silenciosa que corrói a autoestima.


O Impacto Silencioso na Saúde Emocional


Uma cliente certa vez me disse: "Quando estava solteira, eu sabia que estava sozinha e encontrava formas de lidar com isso. Agora, estou casada há 15 anos e me sinto mais sozinha do que nunca, mas não tenho 'permissão' para me sentir assim. Afinal, tenho um marido, não tenho?"


O que torna a solidão a dois tão devastadora é justamente seu caráter paradoxal. Existe algo profundamente confuso em sentir-se sozinha quando, tecnicamente, você não está. Essa dissonância cognitiva – "estou acompanhada, mas me sinto abandonada" – cria um tipo particular de sofrimento que pode ser mais doloroso que a solidão literal.


  • A erosão silenciosa da autoestima


Quando seu parceiro está sempre desconectado, é quase impossível não internalizar essa indiferença. Você começa a se questionar: "Será que não sou interessante o suficiente? Atraente o suficiente? Será que fiz algo errado?"


Essa dúvida constante sobre o próprio valor é uma das consequências mais perigosas do ghosting emocional. Com o tempo, você pode começar a se sentir invisível não apenas para seu parceiro, mas para si mesma.


  • O ciclo exaustivo de tentativa e rejeição


Observo em muitas mulheres um padrão doloroso: elas tentam repetidamente criar momentos de conexão – planejam jantares especiais, iniciam conversas profundas, sugerem atividades juntos – apenas para encontrar respostas mornas ou indiferentes.


Cada tentativa não correspondida é uma pequena rejeição. E quando essas pequenas rejeições se acumulam dia após dia, semana após semana, o impacto cumulativo pode ser devastador para o coração e para a alma.


  • A normalização do vazio


"Acho que é assim mesmo depois de tantos anos juntos", me disse outra cliente, resignada. Uma das consequências mais tristes da indiferença no casamento é como muitas mulheres acabam normalizando essa experiência, aceitando-a como inevitável.


As Raízes da Desconexão


Para entender como lidar com um parceiro distante, precisamos primeiro compreender o que pode estar causando esse comportamento. Na minha experiência clínica, raramente se trata de uma simples falta de amor ou interesse. As causas são geralmente mais complexas e multifacetadas:


  • Padrões de comunicação estabelecidos


Muitos homens cresceram em ambientes onde não foram ensinados a expressar ou mesmo identificar emoções. "Homem não chora", "seja forte", "engole esse choro" – essas mensagens criam adultos que genuinamente não sabem como navegar o mundo emocional. 


Um cliente certa vez me confessou: "Quando minha esposa me pergunta como estou me sentindo, honestamente não sei o que responder."


  • Fatores externos: o mundo lá fora


O estresse crônico do trabalho, preocupações financeiras, pressões sociais – todos esses fatores podem levar a um estado de esgotamento emocional onde a pessoa simplesmente não tem energia para investir em conexão.


A tecnologia também desempenha um papel importante. Celulares, redes sociais e entretenimento digital oferecem uma forma fácil de escapismo, uma maneira de "desligar" sem realmente processar o que está acontecendo internamente ou no relacionamento.


  • Fatores internos: o mundo invisível


Depressão não diagnosticada, ansiedade, crises existenciais, muitos homens sofrem em silêncio, sem reconhecer ou nomear o que estão sentindo. O distanciamento emocional pode ser um sintoma de questões de saúde mental não tratadas.


Cuidando de Si Enquanto Busca Reconexão


Trabalhar para reacender a conexão em um relacionamento é importante, mas igualmente crucial é cuidar de si mesma durante esse processo. A solidão a dois pode ser emocionalmente desgastante, e você merece apoio e nutrição enquanto navega por essas águas.


  • Construa sua rede de apoio


Não guarde essa dor apenas para si. Compartilhar seus sentimentos com amigas de confiança, familiares ou um terapeuta individual pode aliviar significativamente o peso da solidão. Muitas mulheres se surpreendem ao descobrir quantas outras estão passando por experiências semelhantes.


  • Cultive sua identidade além do relacionamento


Quando estamos sofrendo com a indiferença de um parceiro, é fácil ficar obcecadas tentando "consertar" o relacionamento. Mas concentrar toda sua energia e identidade na relação pode aprofundar ainda mais a sensação de vazio.


Invista em amizades, hobbies, projetos profissionais e crescimento pessoal. Nutrir essas outras dimensões da sua vida não apenas traz satisfação genuína, mas também reduz a pressão sobre o relacionamento para ser sua única fonte de realização.


  • Estabeleça limites claros


Cuidar de si também significa estabelecer limites saudáveis. Se a indiferença no casamento está afetando profundamente sua saúde mental e emocional, é legítimo comunicar claramente suas necessidades e os limites do que você está disposta a tolerar.


Isso não significa necessariamente ultimatos dramáticos, mas sim comunicação honesta sobre o impacto do comportamento dele em você e o que você precisa para continuar investindo na relação.


Um Convite à Autenticidade


Se você está vivendo a experiência de ser "ghosteada" dentro do seu próprio relacionamento, quero que saiba: você não está sozinha, sua dor é válida, e existe um caminho à frente, seja ele de reconexão ou de redescoberta de si mesma.


E se você sentir que precisa de apoio nessa jornada, estou aqui. Juntas, podemos explorar suas opções e encontrar clareza em meio à névoa da solidão a dois.


 
 
 

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