Entre a aventura e a estabilidade: o luto por quem você já foi
- Michelle Martins de Oliveira
- 22 de jul.
- 4 min de leitura

A Dança das Fases da Vida
A vida é um rio em constante movimento, e nós, seus navegantes, estamos sempre em transição. Cada fase nos convida a uma nova dança, com ritmos e passos diferentes. Aos 20, talvez a melodia fosse a da aventura, da exploração sem limites, de se jogar em cada experiência com intensidade. Aos 30, ou 40, a música pode mudar para a da construção de raízes, da estabilidade, de um olhar mais atento para o que se quer solidificar. E nessa transição, é comum sentir um tipo de luto – o luto por quem você já foi.
Não se trata de tristeza pela vida atual, mas de uma saudade sutil daquela versão de si mesmo que, de alguma forma, ficou para trás. Aquela pessoa que dormia em hostels na Ásia, que trocava de emprego a cada ano, que vivia intensamente cada festa. Essa nostalgia é natural e faz parte do processo de amadurecimento.
Em meu trabalho, percebo que muitos de nós, especialmente mulheres, se questionam: "Será que perdi minha essência? Será que estou 'mornando'?" Este artigo é um convite para explorarmos juntos essa jornada de adaptação interna, de como honrar quem fomos enquanto abraçamos quem estamos nos tornando, sem perder a chama da curiosidade e do significado.
A Saudade de Si Mesmo: O Luto Pelas Versões Anteriores
É uma sensação curiosa, não é? Olhar para trás e sentir uma pontada de nostalgia por aquela versão de você que era mais livre, mais impulsiva, talvez mais descompromissada.
Aos 20 e poucos, a vida parecia um playground de possibilidades infinitas. As decisões eram mais leves, as responsabilidades menores, e a capacidade de se jogar em novas experiências era quase ilimitada. Você podia viajar com uma mochila nas costas, mudar de cidade por um capricho, ou passar a noite em claro sem sentir o peso no dia seguinte.
Essa "saudade de si mesmo" não é um sinal de que você está infeliz com sua vida atual. Pelo contrário, é um reconhecimento natural de que você evoluiu. É o luto por uma identidade que, embora não seja mais a sua principal, foi fundamental para te trazer até aqui. É como se despedir de um amigo querido que precisa seguir um caminho diferente.
Essa versão anterior de você não desapareceu; ela se transformou, se integrou à complexidade de quem você é hoje. O desafio é reconhecer essa perda sem se apegar a ela, permitindo-se viver plenamente o presente.
O Medo de "Mornar": Redefinindo Aventura na Vida Adulta
Um dos maiores medos que acompanham essa transição de fase é o de "mornar". A ideia de que a vida adulta, com suas responsabilidades e rotinas, pode apagar a chama da aventura, da espontaneidade, da intensidade. Aos 30, 40, ou mais, a aventura não se manifesta mais necessariamente em mochilões pelo mundo ou em noites em claro. Ela se redefine.
A aventura pode estar em aprender um novo idioma, em iniciar um projeto pessoal, em explorar uma nova paixão, em se aprofundar em um relacionamento, em descobrir novos cantos da sua própria cidade, ou até mesmo em se desafiar a sair da zona de conforto em pequenas atitudes diárias.
A estabilidade não precisa ser sinônimo de monotonia. Pelo contrário, ela pode ser a base segura a partir da qual você se permite explorar novas profundezas, novos tipos de aventura que antes não eram possíveis. É sobre encontrar a intensidade e o significado nas pequenas coisas, na construção de algo duradouro, na profundidade das conexões, e na descoberta contínua de quem você é e do que te move. A chama da curiosidade pode e deve permanecer acesa, mas talvez ela agora ilumine caminhos diferentes.
Crescimento Pós-Transição: O Que se Perde e o Que se Ganha
Cada transição de fase na vida é um processo de perda e ganho. Perdemos a liberdade despreocupada da juventude, a espontaneidade de quem não tem grandes compromissos, a identidade que nos definia em um determinado momento.
Mas, em contrapartida, ganhamos algo de valor inestimável: maturidade, autoconhecimento, resiliência, a capacidade de construir laços mais profundos e significativos, e uma nova perspectiva sobre o que realmente importa.
O crescimento pós-transição não é sobre voltar a ser quem você era, mas sobre integrar todas as suas versões em uma pessoa mais completa e consciente. É entender que a aventura não se limita a lugares exóticos, mas pode ser encontrada na profundidade de uma conversa, na construção de um projeto, na superação de um desafio pessoal, ou na descoberta de novas paixões que se alinham com a sua fase atual.
É um processo de ressignificação, onde o que antes era visto como perda se transforma em alicerce para um novo tipo de florescimento.
Mantendo a Chama Acesa Enquanto Constrói Raízes
A pergunta que fica é: como manter a chama da curiosidade acesa enquanto se constrói raízes? A resposta reside no equilíbrio e na intencionalidade. Não é preciso abandonar a aventura para abraçar a estabilidade, nem vice-versa. É sobre encontrar a sua própria definição de uma vida plena, que honre todas as suas versões e que permita que você continue crescendo e explorando, mas de uma forma que faça sentido para o seu momento atual.
Permita-se sentir o luto pelas versões que ficaram para trás, mas não se prenda a elas. Celebre a sua capacidade de adaptação e a riqueza de suas experiências. Redefina o que é aventura para você, encontrando-a nas pequenas e grandes descobertas do dia a dia. E, acima de tudo, confie no processo. A vida é uma jornada de constante reinvenção, e cada fase traz consigo a oportunidade de se tornar uma versão ainda mais autêntica e feliz de si mesma.
Um Convite à Autodescoberta e ao Florescimento
Se você se identificou com essa jornada de transição e sente que precisa de um espaço para explorar essas emoções, redefinir seus propósitos ou simplesmente encontrar apoio para navegar por essa nova fase da vida, saiba que você não está sozinha.
A terapia é um caminho poderoso para o autoconhecimento e para a construção de uma vida com mais significado e bem-estar.
Estou aqui para te acompanhar nessa jornada, oferecendo um espaço seguro e acolhedor para que você possa honrar quem você já foi, abraçar quem você está se tornando e construir um futuro que reflita a sua verdadeira essência. Entre em contato para agendar uma sessão e vamos florescer juntas nessa nova fase.




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